Mestre Roque Santeiro (foto por Pierre Azevedo - 2014) |
É com tristeza
que compartilhamos a notícia do falecimento de mais um mestre querido.
Mestre Roque,
compositor, cantador, tocador e a risada mais longa e bonita do carimbó se
juntou aos encantados da Ilha de Maiandeua, em Maracanã, no Salgado Paraense.
Seu falecimento nesta sexta-feira da paixão, em decorrência de graves problemas
de saúde, cobre de luto nossos tambores e cantorias...
Morador da Vila
do 40, no final da estrada que dá acesso à Maiandeua e às Vilas de Mocoóca e
Fortalezinha, Mestre Roque Santeiro, como gostava de ser chamado, também era
filho de Marapanim, nascido na Vila de Matapiquara, região da Água Doce, fato
que sempre lembrava com orgulho.
Dono de uma
alegria e bom humor incomparáveis, Mestre Roque gostava de repetir um bordão
que se tornou sua marca registrada: "Olha essa parada!.."seguido
sempre de uma sonora risada que durava quase um minuto, revelando sua intensa
felicidade em tocar carimbó ao lado de seus amigos e parceiros de Fortalezinha
e Maracanã.
Certa vez,
durante uma conversa no Espaço Cidadão Tio Milico em Fortalezinha, onde
colaborava no ensinamento das tradições carimbozeiras às crianças e
adolescentes da comunidade, Mestre Roque explicou porque o seu grupo de carimbó
se chamava "De Repente":
"-É assim:
eu saio com minha bicicleta levando um tambor, uma maraca, um réco, aí chego
num lugar e convido um parceiro pra gente tocar um carimbó. Então "de
repente" a gente faz um carimbó! Olha essa
parada!...Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk"
Mestre Roque vai
fazer muita, muita falta mesmo. Não esperávamos que se fosse agora, de repente,
em um momento em que o movimento da Campanha do Carimbó consegue iniciar a
discussão da salvaguarda do carimbó junto ao Iphan. Um momento que poderá tecer
as possibilidades para que mestres como ele possam ter apoio, valorização e
condições dignas para exercerem suas atividades. Mas a vida é aquilo que
acontece enquanto fazemos planos, não é mesmo?
Roque também não
chegou a ver o resultado do projeto Mestres Praianos do Carimbó de Maiandeua,
cujo documentário onde ele é um dos principais protagonistas deverá ser exibido
em sua comunidade agora em abril. Ele com certeza iria dar altas risadas de
satisfação ao se ver na tela, ao lado de outros mestres como Chico Braga e
Montano.
Mestre Roque (foto Isaac Loureiro/2008) |
Vai ficar o
registro e a memória. E uma imensa, imensa saudade de um dos mestres mais puros
e generosos que já tivemos a honra de conhecer e conviver.
Choramos aqui
essa perda, compartilhando nossa dor e tristeza com todos vocês que são
família, amigos, parceiros, aliados, simpatizantes, próximos os distantes.
E buscando
forças na vida generosa desse mestre, que nos ensinou o quanto de festa e
alegria espontânea o carimbó é feito, dedicamos também a ele essa luta e essa
esperança que seguiremos sustentando, sempre.
Vá em paz,
Mestre Roque. Que os encantados saibam apreciar sua arte e seu sorriso imortal.
Belém, Pará,
Sábado de Aleluia de 2015.
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