segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

CARIMBOZEIROS COBRAM AÇÕES DO IPHAN


Matéria sobre o Encontro de Lideranças da Campanha do Carimbó publicada no jornal Diário do Pará nesta segunda-feira (2/fev), mostrando o posicionamento do movimento carimbozeiro a respeito dos desdobramentos do processo de registro do Carimbó. 


Os grupos tradicionais de carimbó do Pará querem mais do que apenas o título de patrimônio cultural imaterial do Brasil. Almejam que as ações de salvaguarda para garantir apoio e valorização ao ritmo e aos mestres que vêm difundindo essa cultura, se concretizem. Para isso, estão empenhados cada vez mais em se mobilizar, chamar a sociedade ao debate e cobrar dos governos que as ações comecem.

O primeiro passo, os grupos já deram: reuniram, na última sexta-feira, trinta representantes de quinze municípios que fazem parte desse movimento em várias regiões do Pará e que resultou no reconhecimento do carimbó como patrimônio cultural imaterial em setembro de 2014.

Lideranças reunidas em Belém (Foto por Isaac Loureiro)
“A reunião foi para retomar as discussões da campanha do carimbó e pautar junto ao Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) as ações de salvaguarda. Para isso, precisamos elaborar um plano de ações para garantir apoio, valorização, proteção e difusão do carimbó. Agora é responsabilidade do Estado brasileiro proteger a manifestação e nosso papel é cobrar que as coisas aconteçam e entender como nós vamos participar. Só tem sentido se isso tudo acontecer com a participação ativa dos grupos e dos mestres do carimbó. Nós é que temos que dizer quais são as necessidades”, afirma Isaac Loureiro, um dos coordenadores da campanha que lutou para que o carimbó se tornasse patrimônio.

Os líderes discutiram questões relacionadas ao registro junto ao Iphan, como pendências e falta de informações sobre a documentação final do processo, e o descontentamento com o vídeo-documentário e dossiê apresentados para a conquista do título. “O registro aconteceu e está garantido, mas não tivemos acesso à versão final do dossiê e o vídeo que foi apresentado não nos agradou, pelo menos na versão mais curta que foi apresentada, porque os mestres não se reconheceram nele e não se sentem representados. Em se tratando de um vídeo institucional, de um instrumento de difusão que deveria servir de referência para que as pessoas saibam sobre o que é o carimbó e porque ele é patrimônio, precisa ser o mais fiel possível à realidade, abrangente, consistente e coerente, incluindo os grupos, caso contrário precisa ser refeito”, defende Isaac, que diz que a versão a mpliada deve ser entregue até março e será analisada pelos grupos.

Uma das decisões do grupo foi a realização do 1º Congresso Estadual da Campanha do Carimbó, que vai definir uma entidade representativa do carimbó paraense, transformando o grupo em uma organização formal, que possa fazer interlocução com órgãos de governo.
“Queremos nos organizar para cobrar o que define a lei. O ritmo virou patrimônio, mas precisa de garantias e queremos construir ações junto com Iphan, Ministério da Cultura e das outras esferas de governo. Sabemos que a responsabilidade não é só do governo federal, que o governo do Estado e as prefeitura dos municípios têm que assumir sua parcela e incluir políticas de valorização”. 

E Isaac acredita que é só com organização que os grupos vão chegar lá. “Parece que não caiu a ficha e o título ainda não se transformou em ações concretas, políticas públicas. Mas sabemos que isso depende da nossa própria organização. Se a gente não gritar, não tem recurso e, sem ele, não tem salvaguarda, e aí vamos perder mais mestres e mais cultura”, afirma.

Sobre as críticas feitas pelo movimento aos documentos de registro do carimó e à falta de ações de salvaguarda, o DIÁRIO tentou ouvir o Iphan, mas recebeu a informação de que a superintendente do órgão no Pará, Doroteia Lima, estava em viagem de trabalho a Brasília.