sábado, 3 de novembro de 2018

O Carimbó Nunca Morre!

(Foto: Elza Lima)

O Carimbó nunca morre! 

Quem afirmou isso foi Augusto Gomes Rodrigues, o Mestre Verequete, que partiu desta existência há exatos nove anos atrás, no dia 3 de novembro de 2009. 

Sua afirmação foi profética. O Carimbó segue vivo e cada vez mais intenso no Pará e também no Brasil, superando séculos de exclusão, preconceito e invisibilidade para se auto-organizar a partir de seus grupos e comunidades tradicionais e conquistar o reconhecimento nacional como patrimônio cultural imaterial do Brasil, em setembro de 2014.

Na data de hoje, no mofado e esquecido calendário oficial do Estado do Pará, é o Dia Estadual do Carimbó, decretada por uma lei (nº 7.457/2010) sancionada pela governadora do estado em 2010 justamente para homenagear a memória de Mestre Verequete. E que até hoje NUNCA foi objeto de nenhuma comemoração ou ação por parte do governo estadual que o instituiu, e cuja obrigação seria cumprir a própria lei.

Esses dois fatos, de uma lado a força protagonista e realizadora das comunidades e do movimento da Campanha do Carimbó que promove valorização e conquista direitos coletivos, do outro os governos estadual e municipais que não viabilizam políticas públicas necessárias para a salvaguarda do Carimbó e seus mestres e mestras, expressam o chão da realidade onde hoje caminha, luta e resiste essa nossa cultura ancestral, revelando que ainda há muito trabalho para garantirmos dignidade, valorização e direitos para o nosso Carimbó e seus detentores.

Porém, cabe a nós ressaltar que nem todas as portas oficiais estão fechadas para o Carimbó. É importante destacarmos a atuação exemplar e responsável do IphanGovBr, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, principalmente através da sua Superintendência Estadual no Pará, cuja titular foi a querida Maria Dorotéa de Lima e agora é o incansável Cyro Almeida. O Iphan, que desde as primeiras reuniões e debates sobre o registro do Carimbó esteve sempre ao nosso lado, como parceiro e aliado, nos respaldando e apoiando em todas as nossas ações, contribuiu direta e indiretamente para que conquistássemos o título de Patrimônio Imaterial do Brasil, e agora trabalha intensamente conosco para assegurar a política de salvaguarda do Carimbó, de forma participativa, democrática e compartilhada. 

É justamente através dessa aliança e parceria com o Iphan que estamos conseguindo avançar no fortalecimento e valorização do nosso Carimbó em nível local e nacional. É por meio dessa união de esforços que estamos viabilizando as primeiras ações oficiais de salvaguarda, e construindo o Plano de Salvaguarda do Carimbó para os próximos 10 anos.

E neste momento em que nosso país passa por momentos tão turbulentos, onde o fazer cultural e sua diversidade é publicamente menosprezada pelo presidente recém-eleito que anuncia a absurda extinção do Ministério da Cultura e a desarticulação das políticas culturais nacionais, precisamos mais do que nunca dessa força do protagonismo comunitário do Carimbó e sua auto-organização coletiva, aliada ao compromisso e responsabilidade de instituições como o Iphan, que se mantém fiéis à sua missão histórica de proteger e valorizar nosso patrimônio cultural material e imaterial, como manda nossa Constituição Federal.

Afirmamos mais do que nunca que Cultura é um direito fundamental de cada filho e filha deste país, que nosso povo tem o direito intocável de proteção, preservação, valorização, difusão e fruição do nosso Patrimônio Cultural, a principal herança que para nós deixaram as gerações de brasileiros e brasileiras, nossos ancestrais e antepassados indígenas, africanos, europeus e de outros povos que dão vida e diversidade à nossa pluricultural identidade. Esses direitos culturais precisam ser defendidos e garantidos por todos nós, porque são parte fundamental de nossa cidadania e humanidade, hoje e sempre.

Neste Dia Estadual do Carimbó, honrando a memória e a luta de todos os nossos mestres e mestras, nossos grupos e comunidades carimbozeiras, a Campanha Carimbó Patrimônio Cultural Brasileiro e a Associação do Carimbó do Estado do Pará-ACEPA manifesta sua firme posição de seguir lutando e trabalhando pelo respeito e garantia a todos os direitos do nosso povo, pelo respeito à Democracia e às liberdades individuais e coletivas, pelos nossos direitos culturais e pelo respeito à diversidade cultural brasileira, pela manutenção e fortalecimento do Ministério da Cultura, pela garantia de políticas públicas de cultura democraticamente estabelecidas.

Nossa oposição e repúdio a toda forma de autoritarismo e desrespeito aos direitos humanos, sociais, políticos e culturais do povo brasileiro, esse povo maravilhoso e criativo de cuja alma o Carimbó é parte fundamental e indissociável.

O Carimbó nunca morre! A luta por liberdade, direitos e dignidade é permanente! Salve Verequete!

Belém do Pará, 3 de novembro de 2018.

9º aniversário de falecimento de Mestre Verequete.
4º ano do registro do Carimbó como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro.