quarta-feira, 28 de maio de 2008

Encontro em Santarém Novo reúne carimbozeiros do Salgado

Grupos e Mestres carimbozeiros discutem sobre o registro do carimbó como patrimônio imaterial

O Carimbó é a música tradicional paraense por excelência. Absoluto na região do Salgado paraense, não há cidade onde não se encontre um desses conjuntos formados em sua maioria por músicos populares, pescadores, lavradores e tiradores de caranguejo que mesmo em condições adversas teimam em manter e renovar o Carimbó e as tradições a ele relacionadas. Pode-se dizer mesmo que o Carimbó é parte essencial da alma paraense e amazônida, sendo portanto componente importante da alma brasileira.

Santarém Novo, na microrregião do Salgado, é um dos municípios onde a tradição do Carimbó se manifesta de forma mais autêntica e profunda. Terra do lendário Carimbó de São Benedito, manifestação preservada há mais de um século por uma Irmandade que é mantida pela própria comunidade, a cidade às margens do Rio Maracanã se tornou uma das principais referências da cultura popular paraense, graças à originalidade, beleza e resistência de suas tradições culturais. O belo cenário natural dos manguezais e das praias temporárias da Reserva Extrativista Marinha Chocoaré-Mato Grosso completam o ambiente que alimenta e inspira os mestres de carimbó santareenses, em sua maioria pescadores e tiradores de caranguejo, este considerado o elemento mais famoso da culinária local.

Foi em Santarém Novo, terra onde se dança carimbó de paletó e gravata em onze noites e festa ininterrupta, que nasceu todo o movimento pelo registro do carimbó como patrimônio cultural do Brasil. Agora a cidade se prepara para realizar o seu Encontro Santareense de Articulação da Campanha “Carimbó Patrimônio Cultural Brasileiro”, a ocorrer no dia 31 de maio de 2008 (sábado), das 08 às 14 h, no Barracão da centenária Irmandade de Carimbó de São Benedito.

O Encontro pretende reunir os diversos grupos de Carimbó de Santarém Novo e região, seus mestres, músicos e dançarinos, as entidades culturais e as instituições públicas de cultura locais, para debater sobre o processo de registro do carimbó, além de discutir propostas de organização da campanha em nível local, buscando estruturar e planejar suas atividades nos municípios dessa área.

O evento será uma oportunidade para conhecer o trabalho de grupos como o “Trinca-Ferro Mirim”, conjunto formado só por crianças sob a orientação do mestre Bernardo Souza e que é um dos melhores exemplos de que é possível envolver as novas gerações na preservação das tradições culturais. Outra presença importante será do grupo “Os Quentes da Madrugada”, da Irmandade de S. Benedito, cujo repertório tradicional mereceu um registro em CD patrocinado pelo Programa Petrobrás Cultural e que participa de vários projetos nacionais em parceria com o grupo A Barca, de São Paulo.
Também estão confirmando presença grupos de carimbó de Salinas, Pirabas, Primavera, Quatipurú, Capanema, Nova Timboteua, Maracanã, Marapanim, Curuçá e outras localidades.

A Campanha “Carimbó Patrimônio Cultural Brasileiro” é uma iniciativa que busca sensibilizar e mobilizar a sociedade em torno da valorização e do reconhecimento do Carimbó como parte fundamental da cultura brasileira, sendo uma continuidade das reflexões e articulações promovidas pela Irmandade de São Benedito durante o
Festival de Carimbó de Santarém Novo desde 2005. Hoje organizada por entidades e grupos culturais de vários municípios, esta Campanha faz parte do processo iniciado junto ao IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – para registrar o Carimbó Paraense como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, sendo apoiada pelo Ministério da Cultura, SECULT, FUNTELPA, Fundação Curro Velho, IAP, Fundação Tancredo Neves e outras instituições culturais.

Como parte fundamental do processo de registro, a Campanha está promovendo encontros de articulação em vários municípios onde o Carimbó é uma referência cultural profunda, em especial na zona litorânea paraense que abrange o Marajó, a microrregião do Salgado e a Zona Bragantina, locais que farão parte do inventário a ser realizado pelo IPHAN e pelo DPHAC/SECULT (Diretoria de Patrimônio) a partir deste ano.

A coordenação local do evento é da Irmandade de Carimbó de São Benedito e da Prefeitura Municipal, em parceria com os grupos de carimbó do município, tendo o apoio de várias instituições culturais governamentais e não-governamentais.

Serviço:
Encontro Santareense de Articulação da Campanha “Carimbó Patrimônio Cultural Brasileiro”
Dia 31 de maio de 2008 (sábado), das 08 às 14 h, no Barracão da Irmandade de Carimbó de São Benedito, localizada na Tv. São Sebastião, Centro, Santarém Novo/PA.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Encontro da Campanha em Curuçá

Encontro fortalece articulação da Campanha em Curuçá

No último dia 24 de maio, Curuçá realizou seu 1º Encontro de Articulação da Campanha pelo Carimbó como Patrimônio Cultural. A vila de Araquaim, uma das comunidades que integram o município, foi o local escolhido para o evento, que reuniu cerca de 200 pessoas, entre grupos de carimbó, autoridades políticas, pesquisadores, músicos em geral e curiosos.

A programação começou ainda no dia 23 à noite, quando os moradores de Araquaim carregaram o mastro de São Benedito pelas ruas da vila até a sede do Araquaim Esporte Clube (AEC), onde o Encontro aconteceu no dia seguinte. Ao som do grupo Os Canarinhos, o mastro foi levado pelo cortejo até o AEC. Depois de erguido, uma roda de carimbó encerrou as atividades de sexta-feira.


A abertura oficial do Encontro foi feita na manhã do sábado pelos seus organizadores, os representantes dos grupos curuçaenses de carimbó: Os Canarinhos (Jeferson Cabral),Pinga Fogo (Mestre Mímico), do Raio de Sol (Mestre Bocage), do Curió Mirim (Manoel Favacho), além da secretária de Cultura e Turismo de Curuçá, Tiziane Matos.

Em seguida, Isaac Loureiro, da Coordenação Geral da Campanha, falou sobre a história do movimento, sobre como começou e o que já foi feito pelo registro.


O Registro

Após o primeiro intervalo do evento, que foi animado pelo grupo Curió Mirim (formado por crianças e adolescentes de Curuçá), aconteceu a palestra “O que é Patrimônio Cultural e como ocorre seu processo de registro”, com representantes do IPHAN e da Diretoria de Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural da SECULT.

O palestrante do DPHAC / SECULT falou, dentre outras coisas, sobre o que seria patrimônio imaterial, a partir do conceito de identidade cultural. Ele ainda explicou a natureza dos bens imateriais que, diferente dos materiais, não são tombados, mas sim registrados como patrimônio.

A representante do IPHAN falou sobre o processo de registro, como ele acontecerá, os critérios e sobre a constituição da pesquisa para o inventário necessário para o registro. Ela ainda informou que, mesmo após o carimbó ser declarado patrimônio cultural, o IPHAN deverá fazer um acompanhamento desta forma de expressão paraense para verificar as mudanças pelas quais ele, enquanto bem imaterial, está sujeito devido às dinâmicas culturais.


O mestre do carimbó curuçaense

Isaac Loureiro retomou a discussão sobre a Campanha e apresentou o documento com o pedido de registro, ressaltando o objetivo do movimento e sua importância. Em meio à discussão, a população curuçaense também pôde falar da maior referência do carimbó no município, o popular Nego Uróia.

Segundo registros históricos e relatos de quem conviveu com o filho ilustre de Curuçá, foi Uróia quem levou o carimbó de volta a Belém no final dos anos 60, rompendo décadas de proibição do ritmo na capital do Pará. Apresentando-se com seu conjunto "Bico de Arara", em vários clubes sociais e em emissoras de rádio na época, Nego Uróia contribuiu para popularizar o carimbó como música própria da cultura do povo paraense.


A Campanha em Curuçá

A tarde já havia chegado quando foram lançadas as propostas de organização e planejamento da campanha em Curuçá. Para isso foram criados grupos de trabalho (Carimbó & organização; carimbó & memória; carimbó & educação; carimbó & comunicação e carimbó & eventos), que se reuniram e em seguida apresentaram suas propostas para atuar na Campanha em Curuçá. Desses grupos, foi criada uma comissão geral, que já saiu do Encontro com reunião local marcada para o dia 8 de junho, em Curuçá.


Encerramento

O Encontro terminou com mais um cortejo cultural pelas ruas de Araquaim, para a derrubada do mastro de São Benedito. Após a queda do mastro, a sede Araquaim Esporte Clube foi animada por uma tradicional roda de carimbó, que uniu os curuçaenses em prol de um bem comum: a Campanha, a valorização do ritmo que há muito estava desvalorizado ou mesmo esquecido.








segunda-feira, 5 de maio de 2008

acompanhe aqui as principais notícias da campanha

clique no título para abrir a página

Tambores do carimbó recebem ministro Gilberto Gil em Belém

Campanha organizada por carimbozeiros paraenses pede ao ministro o registro do carimbó como patrimônio cultural brasileiro

- Saiba mais sobre a Campanha pelo registro do Carimbó como patrimônio cultural brasileiro

- Reunião discute e define a agenda de maio
Reunião no IPHAN discutiu o andamento e as novas metas da campanha

- Breve história do Carimbó
Uma introdução sobre o ritmo, a dança, a identidade e os mestres do Carimbó

Gilberto Gil se encontra com mestres de Carimbó em Belém


Campanha organizada por carimbozeiros paraenses pede ao ministro o registro do carimbó como patrimônio cultural brasileiro




O Ministro da Cultura Gilberto Gil estará em Belém nesta terça-feira, dia 06 de maio, participando da cerimônia de lançamento do edital dos Pontos de Cultura no Pará e do Programa Mais Cultura, em parceria com a SECULT – Secretaria de Estado da Cultura e o Governo do Estado.


Dezenas de grupos e entidades integrantes da Campanha “Carimbó Patrimônio Cultural Brasileiro” estarão nas ruas do centro histórico de Belém, participando do grande cortejo cultural que irá recepcionar o ministro. Vindos de diversas cidades do interior, como Santarém Novo, Maracanã, Marapanim, Curuçá e Quatipurú, bem como da região metropolitana de Belém, os “carimbozeiros” paraenses irão aproveitar a ocasião para pedir o apoio de Gil e seu ministério no processo de registro do carimbó como patrimônio imaterial da cultura brasileira, uma ação já iniciada junto ao IPHAN pela Irmandade de Carimbó de São Benedito (Santarém Novo) e pelas associações culturais Japiim, Raízes da Terra e Uirapuru (Marapanim).


Na Feira do Açaí, será formada uma grande Roda de Carimbó para o início do cortejo, previsto para iniciar às 16 horas. Seguindo pela área da Pça. Frei Caetano Brandão, o cortejo irá até o Forte do Castelo, histórica fortaleza construída pelos colonizadores portugueses no século 16 para dominar a região. Na entrada do Forte o Ministro será recebido por mestres das culturas populares paraenses (carimbó, boi, folias, quilombolas, indígenas etc.), significando a retomada da fortaleza pelas culturas populares herdeiras da Cabanagem e da resistência indígena, negra e popular na Amazônia. Nesse momento planeja-se dar uma "salva de tambores" ao Ministro, no lugar da "salva de tiros" costumeiramente usada para saudar as autoridades oficiais na época colonial.


Ao entrar no Forte, Gil assistirá a apresentação do grupo de carimbó “Trinca-Ferro Mirim”, da cidade de Santarém Novo, formado só por crianças da comunidade sob a orientação do Mestre Bernardo e D. Ana, mestres locais.


Após a cerimônia oficial, Gilberto Gil receberá das mãos da coordenação da campanha um documento com o pedido de registro do carimbó como Patrimônio Cultural Brasileiro, junto com um paneiro recheado de CDs de carimbó, artesanato paraense, bombons de cupu-açú e uma mostra da tradicional “gengibirra”, bebida típica das festas de carimbó no interior.


Para encerrar a programação, o Ministro irá participar de uma roda de carimbó com os grupos de Marapanim “Raízes da Terra”, “Japiim” e “Uirapuru”, que farão uma bela homenagem ao centenário de Mestre Lucindo, um dos maiores ícones do gênero.


A Campanha “Carimbó Patrimônio Cultural Brasileiro” é uma iniciativa que busca envolver e mobilizar a sociedade em torno da valorização e do reconhecimento do Carimbó como expressão importante da cultura brasileira, sendo uma continuidade do processo organizado a partir das discussões promovidas no Festival de Carimbó de Santarém Novo desde 2005. Organizada por grupos de carimbó e entidades culturais de vários municípios, esta Campanha faz parte do processo iniciado pela Irmandade de Carimbó de São Benedito junto ao IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – para registrar o Carimbó Paraense como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil.



Contatos e informações:


Coordenação – 9995-4422 (Isaac Loureiro)

Comissão de Comunicação – 8167-8783 (Flávio Miranda), 9991-5223 (Elida), 8857-9951 (Alexandre)


Programação da visita:

14:30
- Chegada do Ministro e comitiva à Belém

15:30 - Visita do Ministro ao Ver-o-Peso

16:00- Roda de Carimbó na Feira do Açaí com vários grupos da Campanha CARIMBÓ PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO (lembrando que os grupos e movimentos culturais estarão concentrando no local desde as 15:00)

16:30 - Início do Cortejo Cultural com o Ministro e os grupos e movimentos culturais paraenses, saindo da Feira do Açaí em direção ao Forte do Castelo, com o seguinte roteiro (estações)
--- 1ª Estação: Saudação dos Afro-Religiosos na subida da ladeira do Forte do Castelo
--- 2ª Estação: Saudação dos grupos juninos (cordões e pássaros, bois, quadrilhas juninas) em frente à Igreja de Sto. Alexandre
--- 3ª Estação: Visita do Ministro à Catedral da Sé e saudação por grupos de teatro e dança
--- 4ª Estação: Saudação das escolas e blocos carnavalescos na praça da Casa das Onze Janelas
--- 5ª Estação: Saudação das crianças do Boi-Bumbá em frente ao Forte do Castelo

17:30- Recepção do Ministro por mestres e mestras das culturas populares paraenses (carimbó, boi, folias, quilombolas, indígenas, etc.) na entrada do Forte do Castelo, onde entregarão simbolicamente a chave do Forte ao ministro, significando a retomada da fortaleza pelas culturas populares herdeiras da Cabanagem e da resistência indígena, negra e popular na Amazônia.
Neste momento, a idéia é saudar o ministro com uma "salva de tambores" no lugar da "salva de tiros" (os tambores deverão estar nos muros do forte, ao lado dos velhos canhões)

18:00 - Entrada do ministro no Forte do Castelo, onde será recepcionado pelo grupo de carimbó "Trinca-Ferro Mirim", do município de Santarém Novo, formado só por crianças, simbolizando a transmissão das tradições do carimbó para as novas gerações

18:30 - Pronunciamentos oficiais do Ministro, da Governadora e do Secretário Estadual de Cultura, com a cerimônia de lançamento dos Editais dos Pontos de Cultura e assinatura do convênio do Programa Mais Cultura entre a Secult e o MinC; neste momento haverá também uma fala de um representante da Campanha CARIMBÓ PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO e a entrega simbólica do pedido de registro do Carimbó como Patrimônio Imaterial ao ministro; também está previsto a apresentação do hino nacional cantado em língua indígena por um representante dos Kaiapós

19:30 - Apresentação de carimbó com os grupos Japiim, Uirapurú e Raízes da Terra de Marapanim (Unidos por Marapanim)

20:00 - Encerramento

Reunião discute e define a agenda de maio

Debates e novas decisões marcaram a assembléia de articulação da Campanha pelo Registro do Carimbó, realizada no último sábado, 3 de maio, no auditório do IPHAN. As comissões de Articulação e Planejamento, de Eventos, a Pedagógica e a de Comunicação mostraram suas propostas e os trabalhos já executados em prol da campanha.
No início da reunião geral, os representantes da Campanha nas cidades do interior do Pará trouxeram as notícias dos encontros que têm se realizado nas suas cidades e sobre os que ainda se realizarão neste mês de maio (confira a agenda no blog).
Após o repasse das informações gerais, as comissões que atuam na organização da Campanha puderam apresentar as atividades que foram desenvolvidas ao longo do mês de abril e as propostas de trabalho para os próximos meses.
A Comissão de Articulação e Planejamento, por exemplo, propôs que se tenha reunião geral da Campanha uma vez por mês. Também foram estabelecidos critérios para que um grupo ou uma entidade ligada ao Carimbó faça parte da Campanha, como o preenchimento de um formulário de cadastro para adesão ao movimento, e uma justificativa quando a organização não puder ter representante nas reuniões mais de três vezes consecutivas. Além disso, foi aprovada a criação de uma Comissão Administrativa e Financeira, composta por três pessoas, igualmente proposta pela Articulação e Planejamento.
A Comissão de Eventos sugeriu a realização de um evento mensal da Campanha, uma roda de Carimbó com espaço para exposição e divulgação dos materiais do nosso movimento e dos grupos participantes, bem como para discussão sobre a importância do Carimbó no passado, no presente e para o futuro. A estrutura do evento está em articulação e logo será lançada para aprovação em reunião geral.
Os conceitos que a Campanha irá trabalhar fundamentaram as propostas da Comissão Pedagógica. Entre eles, o de Patrimônio Cultural Imaterial e o de Carimbó enquanto expressão da criatividade dos povos da Amazônia. A sugestão da pedagogia é que todos da Campanha possam participar de reuniões e debates, para aliar o acúmulo de conhecimento com a prática.
A Comissão de Comunicação, por sua vez, apresentou em assembléia as ferramentas que já estão sendo utilizadas na internet para a veiculação das informações sobre a Campanha: o blog, o fotolog e a comunidade oficial no Orkut. Também foi anunciada a proposta do informativo que irá circular no interior do Pará, a versão impressa das informações divulgadas eletronicamente.
Por fim, foi discutida a pauta da Campanha na visita do Ministro Gilberto Gil a Belém, na próxima terça-feira, dia 6. Na programação definida, diversos grupos de Carimbó, do interior e da Região Metropolitana de Belém, farão apresentação de música, dança e salva de tambores na chegada do cortejo que o ministro fará pela Cidade Velha até o Forte do Castelo. Além disso, numa ação simbólica, Mestres da nossa cultura (Carimbó, boi, quilombolas, indígenas, etc.) entregarão a chave do Forte ao ministro significando a retomada da fortaleza pelas culturas populares herdeiras da Cabanagem e da resistência indígena, negra e popular na Amazônia.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

A Campanha Carimbó Patrimônio Cultural Brasileiro: origens e objetivos

 
 

(Por Isaac Loureiro*)
“Tem gente que diz que faz uns 100 anos e eu digo que tem mais, porque quando minha vó nasceu o carimbó já existia. E então ele tem mais de 200 anos. A minha vó morreu com 86 anos. Veja lá, eu já tô com 70 anos. Não tem mais de 200?”
(Depoimento de Mestre Celé, da Irmandade de Carimbó de S. Benedito, Santarém Novo)

 
O Carimbó é o gênero musical tradicional mais conhecido do Pará, cuja manifestação ocorre há mais de dois séculos em quase todas as regiões do Estado, sendo considerado um elemento fundamental da identidade cultural de nosso povo. Resultado da formação histórica e cultural das populações da Amazônia, sua perenidade e resistência deve-se principalmente a processos de transmissão oral e a modos de vida tradicionais preservados pelas comunidades do litoral e do interior paraoara, dentro de seu contexto social, cultural e ambiental.
 
A Campanha “Carimbó Patrimônio Cultural Brasileiro” é uma iniciativa que busca envolver e mobilizar a sociedade em torno da valorização e do reconhecimento do Carimbó como expressão importante da cultura brasileira, sendo uma continuidade do processo organizado a partir das discussões promovidas no Festival de Carimbó de Santarém Novo desde 2005. Organizada por grupos de carimbó e entidades culturais de vários municípios, esta Campanha faz parte do processo iniciado pela Irmandade de Carimbóde São Benedito junto ao IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – para registrar o Carimbó Paraense como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil.
 
Como parte fundamental desse processo de registro, a Campanha promove atividades de mobilização e sensibilização da sociedade em torno do carimbó, realizando diversas atividades como seminários, oficinas, encontros de mestres, rodas de Carimbó e outras ações em todo o território nacional, buscando tecer alianças e parcerias com instituições públicas, organizações culturais, empresas, pesquisadores e produtores culturais que compartilhem do mesmo objetivo.
 
Como surgiu a idéia de registro junto ao Iphan?
 
A idéia de registrar o Carimbó como Patrimônio Imaterial do Brasil se deu a partir do diálogo estabelecido entre a Irmandade de Carimbó de São Benedito, da cidade de Santarém Novo, e o IPHAN Regional PA/AP, ainda em dezembro de 2005, por ocasião da realização do 4º Festival de Carimbó de Santarém Novo, evento que desde 2002 vinha promovendo a valorização do Carimbó na região do nordeste paraense.
 
Foi nesse espaço que o IPHAN apresentou à Irmandade e aos grupos presentes o Programa Nacional de Patrimônio Imaterial, falando sobre o processo de registro e abrindo assim a possibilidade de tornar o Carimbó patrimônio imaterial da cultura brasileira. Assumindo essa proposta, a Irmandade os grupos de carimbó dão início à mobilização para viabilizar esse registro, o que levou à organização da Campanha “Carimbó Patrimônio Cultural Brasileiro” em dezembro de 2006 e à formalização do pedido de registro junto ao IPHAN em fevereiro de 2008.
 
O pedido oficial incluiu um pequeno dossiê sobre o carimbó e as manifestações a ele associadas, tendo sido articulado pela Irmandade de Carimbó de São Benedito e subscrito também pelas associações culturais Raízes da Terra, Japiim e Uirapuru, estas três do município de Marapanim.
 
Por que organizar uma campanha pelo registrar o carimbó?
 
Entre tantas manifestações integrantes deste grande mosaico que é a cultura brasileira, o Carimbó tem se destacado por sua importância artística, cultural, ambiental, histórica e social. Desde os primórdios da cultura popular na Amazônia, são inúmeras as obras de Carimbó que não possuem registro, são inúmeros casos de produções musicais, saberes e trajetórias de vida de grande relevância para a história da cultura nacional que sobrevivem somente na memória coletiva de nossos mestres e seus descendentes.
 
Para nós, o registro do Carimbó como bem cultural de natureza imaterial significa um importante passo para garantir sua preservação e seu reconhecimento como patrimônio de nossa cultura, elemento essencial e definidor de nossa identidade. O registro se faz necessário diante do acelerado processo de desagregação social e homogeneização cultural que atinge a região amazônica, onde as culturas nativas e tradicionais vem sendo velozmente atropeladas pelos produtos culturais da modernidade capitalista, o que ameaça a diversidade e as identidades próprias dos povos desta região.
 
Registrar o Carimbó é um processo que exige uma ampla mobilização da sociedade, das instituições públicas e dos atores sociais que estão diretamente envolvidos na manutenção desta manifestação. Por ser um bem cultural presente em diversas localidades, em diferentes contextos, com múltiplos significados, acreditamos que toda essa diversidade deve também estar representada no acompanhamento desse processo, participando efetivamente das discussões, contribuindo no trabalho de pesquisa do inventário, articulando alianças e elaborando propostas em sintonia com as necessidades dos grupos e comunidades carimbozeiras.
 
Nesse sentido, a organização da Campanha “Carimbó Patrimônio Cultural Brasileiro” vem cumprir o objetivo de integrar os segmentos sociais e culturais ligados ao Carimbó, proporcionando a todos um espaço de cooperação, reflexão e ação coletiva em prol do reconhecimento e valorização dessa tradição cultural popular.
 
O caminho do carimbó atualmente
 
O carimbó hoje busca o seu reconhecimento mais amplo, mais profundo, lutando para afirmar sua importância para toda a sociedade brasileira. Nosso caminho atual é de organização e construção desse movimento cultural e identitário. Hoje os grupos estão buscando se articular de forma mais coletiva, compartilhando compromissos e idéias, aprendendo a trabalhar juntos respeitando toda a diversidade que existe dentro do carimbó.
 
Há também um caminhar mais forte no sentido da autonomia e protagonismo das comunidades e dos seus grupos, uma necessidade concreta de unidade e organização para conquistar cada vez mais espaço e reconhecimento.
 
Do ponto de vista artístico, vemos um crescente fortalecimento do estilo tradicional de música, canto e dança, que ganham mais visibilidade nos eventos, na mídia e nas comunidades. Podemos dizer que é uma espécie de mergulho profundo em si mesmo, suas raízes e valores, um estado de preparação e revigoramento para novos combates, como antes faziam nossos ancestrais em suas aldeias e mocambos. O carimbó e seus mestres e mestras querem estar preparados para o que virá.
 
Como fazer para participar da campanha?
 
Qualquer pessoa pode participar desta iniciativa, independente de fazer parte ou não de algum grupo ou entidade. A campanha está sendo organizada em vários municípios através de comissões locais que reúnem os grupos de carimbó da comunidade, instituições culturais, produtores culturais, educadores, enfim, todos os que desejam fortalecer essa tradição.
 
Outra forma de participar é promovendo algum tipo de atividade cultural, lúdica, educativa, relacionado ao carimbó em seu bairro, comunidade, escola, etc. É só entrar em contato com nossa coordenação para saber mais a respeito da Campanha e propor parcerias. A difusão de informações sobre o carimbó e as ações da campanha via internet e outros meios de comunicação é outra boa forma de participar. No Pará e em outros estados brasileiros já temos o apoio de diversos sites, redes, revistas, jornais e rádios, entre outros veículos de informação, organizados por grupos e pessoas aliadas de nossa causa.
Todo o trabalho da Campanha é feito de forma voluntária e auto-organizada.


Para saber mais, entre em contato conosco:
 
 
 
(91) 8722-9502 / 8263-9738
 
 (* Isaac Loureiro é ativista cultural, pesquisador, membro da Irmandade de Carimbó de S. Benedito e coordenador da Campanha Carimbó Patrimônio Cultural Brasileiro)

Breve história do Carimbó

Mais do que um gênero musical paraense, o Carimbó é uma das manifestações mais representativas da cultura amazônida. Segundo alguns pesquisadores, as contribuições da cultura indígena e da negra africana no Pará formaram as raízes do ritmo, que já teria mais de 200 anos de história.

O Carimbó era e é tocado até hoje com o tambor deitado no chão e o músico sentado em cima para batucar com as mãos. Em 1767, o jesuíta Frei João Daniel escreveu sobre o ritmo cantado e dançado pelos índios Tupinambás, a partir de um tambor feito de madeira oca recoberto com pele de animal: o curimbó, que deu origem ao nome atual da música e dança.

Além do registro, características demonstram sua originalidade indígena, como uso de maracás e flauta no acompanhamento da música, e na dança o pé arrastado e a postura arqueada. Porém, a semelhança com o batuque africano e o rebolado na dança, juntamente com as histórias transmitidas por comunidades do interior do Pará, remontam a origem do Carimbó para as comunidades de negros vindos do Maranhão ou fugitivos de fazendas da região.


Identidade

Ao levar em consideração as diversas culturas que contribuíram para o surgimento do Carimbó, o ritmo se apresenta como importante elemento no processo de formação da identidade cultural brasileira, com as particularidades da Amazônia.

A sua forma de dançar, os instrumentos que acompanham os curimbós e a vestimenta dos grupos e dos que dançam carimbó são elementos que podem variar de acordo com a região do Pará em que o ritmo está presente. Mas suas letras são sempre compostas por versos curtos, que falam do dia-a-dia do pescador e do lavrador, dos seus trabalhos, dos seus amores, da sua preocupação com o meio ambiente.


Os mestres

A transmissão oral nas famílias, nas comunidades e os modos de vida tradicionais mantidos no interior do Pará são os principais responsáveis pela resistência do chamado Carimbó de raiz (o que traz as características originais do ritmo). Mas aos artistas mais notáveis, grandes compositores, músicos e difusores do carimbó é que são concedidos os títulos de Mestres.

Um dos mestres mais conhecidos no Pará foi Lucindo Rebelo da Costa, ou Mestre Lucindo, do município de Marapanim, no litoral paraense. Natureza e romantismo eram duas constantes na obra do pescador e mestre de Carimbó, que em 2008 completaria seu centenário.


Belém - PA - 2008