sábado, 4 de abril de 2015

"OLHA ESSA PARADA!..." MESTRE ROQUE SE ENCANTOU LÁ PRA BANDAS DE MAIANDEUA...

Mestre Roque Santeiro (foto por Pierre Azevedo - 2014)




É com tristeza que compartilhamos a notícia do falecimento de mais um mestre querido.

Mestre Roque, compositor, cantador, tocador e a risada mais longa e bonita do carimbó se juntou aos encantados da Ilha de Maiandeua, em Maracanã, no Salgado Paraense. Seu falecimento nesta sexta-feira da paixão, em decorrência de graves problemas de saúde, cobre de luto nossos tambores e cantorias...

Morador da Vila do 40, no final da estrada que dá acesso à Maiandeua e às Vilas de Mocoóca e Fortalezinha, Mestre Roque Santeiro, como gostava de ser chamado, também era filho de Marapanim, nascido na Vila de Matapiquara, região da Água Doce, fato que sempre lembrava com orgulho.

Dono de uma alegria e bom humor incomparáveis, Mestre Roque gostava de repetir um bordão que se tornou sua marca registrada: "Olha essa parada!.."seguido sempre de uma sonora risada que durava quase um minuto, revelando sua intensa felicidade em tocar carimbó ao lado de seus amigos e parceiros de Fortalezinha e Maracanã.

Certa vez, durante uma conversa no Espaço Cidadão Tio Milico em Fortalezinha, onde colaborava no ensinamento das tradições carimbozeiras às crianças e adolescentes da comunidade, Mestre Roque explicou porque o seu grupo de carimbó se chamava "De Repente":

"-É assim: eu saio com minha bicicleta levando um tambor, uma maraca, um réco, aí chego num lugar e convido um parceiro pra gente tocar um carimbó. Então "de repente" a gente faz um carimbó! Olha essa parada!...Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk"

Mestre Roque vai fazer muita, muita falta mesmo. Não esperávamos que se fosse agora, de repente, em um momento em que o movimento da Campanha do Carimbó consegue iniciar a discussão da salvaguarda do carimbó junto ao Iphan. Um momento que poderá tecer as possibilidades para que mestres como ele possam ter apoio, valorização e condições dignas para exercerem suas atividades. Mas a vida é aquilo que acontece enquanto fazemos planos, não é mesmo?

Roque também não chegou a ver o resultado do projeto Mestres Praianos do Carimbó de Maiandeua, cujo documentário onde ele é um dos principais protagonistas deverá ser exibido em sua comunidade agora em abril. Ele com certeza iria dar altas risadas de satisfação ao se ver na tela, ao lado de outros mestres como Chico Braga e Montano.

Mestre Roque (foto Isaac Loureiro/2008)
Vai ficar o registro e a memória. E uma imensa, imensa saudade de um dos mestres mais puros e generosos que já tivemos a honra de conhecer e conviver.

Choramos aqui essa perda, compartilhando nossa dor e tristeza com todos vocês que são família, amigos, parceiros, aliados, simpatizantes, próximos os distantes.

E buscando forças na vida generosa desse mestre, que nos ensinou o quanto de festa e alegria espontânea o carimbó é feito, dedicamos também a ele essa luta e essa esperança que seguiremos sustentando, sempre.

Vá em paz, Mestre Roque. Que os encantados saibam apreciar sua arte e seu sorriso imortal.

Belém, Pará, Sábado de Aleluia de 2015.