Matéria sobre o Encontro de Lideranças da Campanha do Carimbó publicada no jornal Diário do Pará nesta segunda-feira (2/fev), mostrando o posicionamento do movimento carimbozeiro a respeito dos desdobramentos do processo de registro do Carimbó.
Os grupos tradicionais de carimbó
do Pará querem mais do que apenas o título de patrimônio cultural
imaterial do Brasil. Almejam que as ações de salvaguarda para garantir
apoio e valorização ao ritmo e aos mestres que vêm difundindo essa
cultura, se concretizem. Para isso, estão empenhados cada vez mais em se
mobilizar, chamar a sociedade ao debate e cobrar dos governos que as
ações comecem.
O primeiro passo, os grupos já
deram: reuniram, na última sexta-feira, trinta representantes de quinze
municípios que fazem parte desse movimento em várias regiões do Pará e
que resultou no reconhecimento do carimbó como patrimônio cultural
imaterial em setembro de 2014.
Lideranças reunidas em Belém (Foto por Isaac Loureiro) |
“A reunião foi para retomar as
discussões da campanha do carimbó e pautar junto ao Iphan (Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) as ações de salvaguarda. Para
isso, precisamos elaborar um plano de ações para garantir apoio,
valorização, proteção e difusão do carimbó. Agora é responsabilidade do
Estado brasileiro proteger a manifestação e nosso papel é cobrar que as
coisas aconteçam e entender como nós vamos participar. Só tem sentido se
isso tudo acontecer com a participação ativa dos grupos e dos mestres
do carimbó. Nós é que temos que dizer quais são as necessidades”, afirma
Isaac Loureiro, um dos coordenadores da campanha que lutou para que o
carimbó se tornasse patrimônio.
Os líderes discutiram questões
relacionadas ao registro junto ao Iphan, como pendências e falta de
informações sobre a documentação final do processo, e o descontentamento
com o vídeo-documentário e dossiê apresentados para a conquista do
título. “O registro aconteceu e está garantido, mas não tivemos acesso à
versão final do dossiê e o vídeo que foi apresentado não nos agradou,
pelo menos na versão mais curta que foi apresentada, porque os mestres
não se reconheceram nele e não se sentem representados. Em se tratando
de um vídeo institucional, de um instrumento de difusão que deveria
servir de referência para que as pessoas saibam sobre o que é o carimbó e
porque ele é patrimônio, precisa ser o mais fiel possível à realidade,
abrangente, consistente e coerente, incluindo os grupos, caso contrário
precisa ser refeito”, defende Isaac, que diz que a versão a mpliada deve
ser entregue até março e será analisada pelos grupos.
Uma das decisões do grupo foi a
realização do 1º Congresso Estadual da Campanha do Carimbó, que vai
definir uma entidade representativa do carimbó paraense, transformando o
grupo em uma organização formal, que possa fazer interlocução com
órgãos de governo.
“Queremos nos organizar para
cobrar o que define a lei. O ritmo virou patrimônio, mas precisa de
garantias e queremos construir ações junto com Iphan, Ministério da
Cultura e das outras esferas de governo. Sabemos que a responsabilidade
não é só do governo federal, que o governo do Estado e as prefeitura dos
municípios têm que assumir sua parcela e incluir políticas de
valorização”.
E Isaac acredita que é só com
organização que os grupos vão chegar lá. “Parece que não caiu a ficha e o
título ainda não se transformou em ações concretas, políticas públicas.
Mas sabemos que isso depende da nossa própria organização. Se a gente
não gritar, não tem recurso e, sem ele, não tem salvaguarda, e aí vamos
perder mais mestres e mais cultura”, afirma.
Sobre as críticas feitas pelo
movimento aos documentos de registro do carimó e à falta de ações de
salvaguarda, o DIÁRIO tentou ouvir o Iphan, mas recebeu a informação de
que a superintendente do órgão no Pará, Doroteia Lima, estava em viagem
de trabalho a Brasília.
(Fonte: Diário do Pará)
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