Distrito entra na campanha do ritmo como patrimônio imaterial da cultura
No último sábado, 30 de agosto, Icoaraci foi palco de mais um Encontro de Articulação da Campanha Carimbó Patrimônio Cultural, momento de esclarecimento sobre o processo de registro do ritmo e também de troca de experiências entre pessoas ligadas a movimentos culturais.
Saias coloridas e rodadas, flores no cabelo e o famoso “banho de cheiro”. Assim foram recepcionados os convidados que chegavam ao encontro realizado na sede da escola de samba 'Mocidade Olariense', em Icoaraci. Os grupos e mestres marcaram presença no encontro e deixaram o ambiente com o forte “batuque dos curimbós”. Dentre eles estavam o “Grupo de Carimbó Os Africanos”, “Unidos do Paraíso”, “Os Caçulas da Vila”, “Iaçá”, “Amigos do Carimbó”, “Unidos do Paraíso”, “Leão Dourado”, “Paraoara”, “Tupiriquim”, “Tucuxi”,os mestres Cazuza, Coutinho, Nazaré Rosa do Boi Resolvido e Nazaré do Ó.
Isaac Loureiro, da coordenação da campanha, iniciou o Encontro falando sobre o surgimento do processo de registro do carimbó como patrimônio cultural e sobre a Campanha. Em seguida, o representante do DEPAC (Departamento de Preservação e Reabilitação do Patrimônio Cultural) explicou aos presentes o que significa “patrimônio material e imaterial” e mostrou como será realizado o Inventário (pesquisa que registra todos os segmentos que envolvem, neste caso, o carimbó).
O produção do inventário de informações sobre o carimbó começará em outubro, e será feito em seis municípios do Estado, mobilizando técnicos do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e Secretaria de Estado de Cultura (Secult).
Mestre Coutinho - Mestre Verequete, grande nome do carimbó que completou 92 anos no dia 26 e foi homenageado com um cortejo cultural pelo bairro do Jurunas, teve em Icoaraci um parceiro de peso para consolidar sua carreira como artista-matriz desse gênero musical. Trata-se de Pedro Nunes Coutinho, mais conhecido como mestre Coutinho, prestes a completar 70 anos de idade em outubro. Esse filho de Barcarena mora em Icoaraci há 65 anos e nos anos 70 foi convidado por Verequete para formar um grupo, o “Uirapuru”, conjunto essencial para valorização e divulgação do carimbó como símbolo da identidade paraense.
Desde jovem, mestre Coutinho aprendeu a tocar viola, curimbó (tambor característico do carimbó) e a compor. “Em 8 de dezembro de 1951, nós fomos para uma ladainha na casa do Alexandre Maracanã, um comerciante de Algodoal, aqui em Icoaraci, e ele nos falou de uma brincadeira chamada zimba, que é o carimbó. E no ano seguinte, em 1952, ele trouxe os instrumentos da zimba para Icoaraci”.
Mestre Coutinho conta que era Antônio Maracanã, Agostinho e Afonso os quem mexiam com a zimba. “Então, eu e o meu tio Zito Nunes conhecemos a zimba, e ele formou o grupo ‘Os Africanos’, que toca carimbó desde 1952”. Dezenove anos depois, Coutinho foi convidado por Verequete, que tinha um comércio na Vila Sorriso, para formar o 'Uirapuru'.
“Em um mês e 18 dias, nós gravamos o primeiro disco, o elepê do ‘Uirapuru’, na rádio Marajoara, com apoio dos radialistas da emissora”. Das 12 faixas do disco, somente duas não eram de autoria de Mestre Coutinho. Ele respondeu, inclusive, pelo sucesso de “O pombo com o gavião”, aplaudida no então programa do apresentador Flávio Cavalcante. “Eu ensinei o Verequete a assinar o nome dele, por causa dos contratos de show do ‘Uirapuru’”. Mestre Coutinho atuou no grupo como ritmista, vocalista e compositor.
“Icoaraci é um polo cultural do Pará, porque aqui tem música, artesanato, tem boi (boi-bumbá), carimbó, cordão de pássaro, ladainha, mastro de santo”, afirmou Coutinho, um carpinteiro, eletricista e fotógrafo que nunca deu as costas para o carimbó.
Nazaré do Ó – Outro ícone da cultura em Icoaraci é Dona Maria de Nazaré do Ó Ribeiro, que desde 1984 comanda o grupo cultural “Águia Negra”, encantando as noites e os dias de Icoaraci. Nazaré do Ó teve a honra de conhecer pessoalmente mestre Lucindo, de Marapanim, o grande poeta desse gênero musical.
* Festival Se Rasgum 2008 - Durante os dias 19, 20 e 21 de setembro, acontecerá um dos maiores festivais de música independente do Norte, o Se Rasgum. Para sua terceira edição, o festival oferece ao público artistas e bandas do Brasil todo e dos mais variados estilos: rock, guitarrada, brega, eletrônico e também o carimbó. Este que será representado pelo grupo Os Caçulas da Vila, que participaram do último encontro em Icoaraci e se apresentam no sábado (20/09 - palco Laboratório). Parabéns ao grupo.
Texto: Publicação do Jornal O Liberal (02/09/2008), com colaboração de Joyce Soares (Comissão de Comunicação da Campanha).
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