quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Carimbó e Jongo realizam encontro histórico em Guaratinguetá


Tradições de raízes comuns, o carimbó de São Benedito e o Jongo do Tamandaré tecem alianças e celebram a diversidade cultural do Brasil



A noite fria da última terça-feira na cidade de Guaratinguetá (SP) esquentou rapidamente para a comunidade do Tamandaré, tradicional reduto do Jongo paulista, ao receber a visita do grupo "Os Quentes da Madrugada", da Irmandade de Carimbó de São Benedito da cidade de Santarém Novo/Pará.

O encontro histórico e inédito entre essas duas comunidades tradicionais, que souberam preservar suas manifestações e identidades culturais ao longo de séculos, é uma das atividades realizadas através do projeto de circulação nacional do Carimbó da Irmandade de São Benedito, sob o patrocínio da Petrobrás e com o apoio do Governo do Pará, SECULT, Fundação Curro Velho e COIMP.

Como se fossem parentes que não se vêem há muito tempo, aquecidos por uma alegria de reencontro, o tambor do Carimbó e o tambu do Jongo tocaram juntos pela primeira vez na quadra da Escola de Samba Unidos do Tamandaré, onde funciona o Ponto de Cultura Bem-te-vi, que é gerido pela Associação Jongueira do Bairro do Tamandaré, em Guarátinguetá, cidade do interior paulista conhecida por ser a terra natal de Frei Galvão.

Os carimbozeiros de Santarém Novo foram recebidos por várias lideranças e jongueiros da comunidade, como Dona Lúcia, presidente da Associação, André, vice-presidente e tocador de tambu, além de outras pessoas que venceram o frio e foram conhecer o carimbó paraense, cheios de curiosidade e simpatia. A notícia da vinda dos "Quentes" mobilizou toda a cidade, tendo até chamadas em rádios locais.

Depois das apresentações, Dona Lúcia e André falaram um pouco sobre a história do Jongo do Tamandaré, sobre o Ponto de Cultura e os frutos do reconhecimento do Jongo como patrimônio imaterial do Brasil, uma conquista ocorrida em 2002 e que ajudou a fortalecer a manifestação na comunidade e em toda a região.

Em seguida, Isaac Loureiro, integrante da Irmandade, falou sobre a tradição do Carimbó de São Benedito e sobre a Campanha "Carimbó Patrimônio Cultural Brasileiro", que também está buscando esse reconhecimento oficial desta manifestação ancestral do povo paraense.

Para encerrar o encontro, formou-se então uma roda de Jongo e Carimbó, com os tambores ecoando na noite paulista reafirmando a memória de luta, resistência e manutenção das identidades de nosso povo, seja no norte ou no sudeste deste país.

A rede de aliança e amizade estava tecida, e a viagem do Carimbó pelo Brasil podia continuar, rumo ao Rio de Janeiro, nossa próxima parada...


SAIBA MAIS SOBRE O JONGO DO TAMANDARÉ

Nos tempos do cativeiro, o Jongo era dançado pelos negros que trabalhavam nas plantações de café do Vale do Paraíba, nas fazendas do sul de Minas Gerais e Espírito Santo. A dança acontece tradicionalmente à noite, celebrando o 13 de maio ou integrando algumas datas significativas do catolicismo popular: festas juninas, Divino Espírito Santo etc.

Através de imagens metafóricas referidas ao universo rural - animais, plantas, carro de boi - os jongueiros “conversam” entre si, seguindo em alguns casos regras bastante estritas de “alinhamento” e encadeamento dos pontos, como são chamados os versos cantados no jongo. O prestígio de um jongueiro se mede pela sua habilidade em amarrar os rivais com a força de seus pontos astuciosamente talhados, bem como pelo seu conhecimento da linguagem cifrada do jongo, que lhe permite “sair” dos pontos propostos pelos outros.

O tambu, tambor maior, e o candongueiro, menor, compõem o instrumental do Jongo, juntamente com o chocalho denominado guaiá, e, em alguns grupos cariocas, a puíta, uma cuíca ancestral de som grave. Quando deseja parar a dança e cantar novo ponto, o jongueiro coloca a mão sobre os couros e grita “Cachuera!”. Padrões rítmicos e coreografia adquirem diferentes características, segundo a comunidade, das evoluções de um solista ou par solista ao centro da roda a um simples giro anti-horário dos participantes em torno dos tambores.

Nesta apresentação, jongueiros do bairro do Tamandaré, periferia de Guaratinguetá, na Região do Vale do Paraíba, pedem licença aos tambus para mostrar parte dos fundamentos desta dança ancestral, recentemente registrada como Patrimônio Imaterial do Brasil. A dança é divertida e convidativa, abrindo espaço para a participação do público na roda e no acompanhamento dos pontos cantados.

O grupo do Jongo do Tamandaré, à moda dos grupos tradicionais da cultura negra, concentra-se em torno da estrutura familiar. Dançado, sobretudo, nas festas juninas, pais, irmãos, primos, tios e agregados podem se reunir para brincar o jongo em outras ocasiões festivas. O grupo do Tamandaré é um dos mais conhecidos do gênero e participa há alguns anos do Encontro de Jongueiros, tendo sediado uma das edições. Recentemente, através da associação criada para a defesa e fomento da tradição do Jongo, foi escolhido pelo MinC como Ponto de Cultura.

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