Mestres do ritmo aguardam decisão do Iphan para declarar carimbó patrimônio cultural brasileiro (Foto: Isaac Loureiro/Divulgação) |
(Por Nathalia Petta - Da Redação)
O
carimbó como patrimônio imaterial da cultura popular. É isso que os
mestres do estilo no Pará aguardam ansiosamente há oito anos. E eles
esperam festejar essa conquistar em breve, com a ajuda da opinião
pública. Depois de tanto esperar por uma resposta do pedido que fizeram
ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), os
mestres e as associações culturais se uniram e usaram o poder das redes
sociais para mobilizar paraenses e simpatizantes da música e da cultura
populares. Para isso, eles próprios aparecem em fotos com o mesmo apelo
para que o pedido seja aprovado.
Mais de 100 mil pessoas foram alcançadas
pelas publicações, que foram incontavelmente compartilhadas pela rede através da página da Campanha do Carimbó no Facebook. O
resultado foi que finalmente o instituto colocou o pedido em pauta para
a reunião do conselho.
“As reuniões do conselho já haviam sido
adiadas diversas vezes, foram prometidas para março, depois junho e até
agosto, mas quando percebemos que o dossiê nem tinha chegado nas mãos
dos conselheiros nacionais, vimos que o sonho de ter o carimbó como
patrimônio imaterial da cultura popular cada vez mais distante.
Decidimos tomar uma atitude e mostrar o quanto estávamos ansiosos por
uma decisão e lançamos a campanha no Facebook. E não queríamos ficar só
no virtual, estávamos já partindo para as ruas para reivindicar uma
resposta”, diz Isaac Loureiro, presidente da Irmandade Carimbó São
Benedito, de Santarém Novo, uma das associações que em 2006 formalizaram
o pedido ao Iphan.
“Chegamos até a fazer um cortejo no último
dia 11 de julho em Santarém Novo e outros arrastões estavam agendados
para Curuçá e Salvaterra. Mas nossas reivindicações virtuais já deram
resultado e recebemos o comunicado da superintendente do Iphan que nosso
pedido entraria na pauta de setembro e que o dossiê já havia sido
encaminhado para Brasília, exatamente após as postagens dos mestres”,
comemora Isaac.
Para ele, a campanha nas mídias sociais foi
fundamental para que o assunto entrasse em pauta. Apesar das poucas
“curtidas” na página oficial da campanha no Facebook (pouco mais de 1,5
mil pessoas), foram mais de 400 compartilhamentos nas fotos dos mestres e
as informações foram visualizadas por mais de 100 mil pessoas, segundo
os dados administrativos da própria rede social. “Nós já tínhamos tido
diversas reuniões, eu mesmo como um dos conselheiros nacionais de
política cultural do Ministério da Cultura já havia levado esse pedido
inúmeras vezes. Até sessão especial na Assembleia Legislativa nós
fizemos, e depois descobrimos que sequer o dossiê havia sido
encaminhado”, recorda Isaac.
Festa de carimbó
Com a boa notícia de que o pedido já está em
pauta para o mês de setembro, os amantes do carimbó já pensam na festa,
quando o resultado favorável for anunciado. Agora eles fizeram mais um
pedido ao Iphan: querem que a reunião do conselho seja realizada em
Belém, para que os mestres e amantes da música possam participar mais
efetivamente e a comunidade possa comemorar, com carimbó, é claro.
“Estamos aguardando a resposta. Caso seja favorável, temos muito o que
preparar para que a festa já comece enquanto a reunião acontece”,
acrescenta o presidente.
Solange Loureiro viveu uma vida dedicada ao
carimbó. Sua família faz parte da Irmandade Carimbó São Benedito e
sempre esteve envolvida nos eventos, principalmente na tradicional festa
de carimbó promovida em dezembro na cidade. “Trabalho na produção e sou
dançarina do grupo ‘Os Quentes da Madrugada’, por isso o carimbó faz
parte da minha vida. Estamos há muito tempo esperando que esse dia
chegue e queremos muito comemorar. Não aceitamos que os mestres do
carimbó continuem morrendo sem ter essa resposta e por isso lutamos
tanto”, diz ela, que é integrante da campanha.
Solange relembra que o movimento começou em
2005, durante o 3º Festival de Carimbó de Santarém Novo. “Uma técnica do
Iphan, na época, veio para o festival e nos esclareceu sobre o
patrimônio imaterial e se colocou à disposição para nos ajudar com os
registros do carimbó” conta.
Caso o carimbó vire patrimônio, a Campanha do Carimbó planeja um grande festival com grupos de todo estado, numa
verdadeira apoteose da cultura popular. “Vamos convidar de 80 a 100
grupos para essa grande festa. Depois vem a cerimônia de titulação, que é
um ato solene em que a ministra entrega o certificado do processo.
Esperamos que ela entregue nas mãos dos nossos mestres, peças
fundamentais para a nossa cultura e astros da nossa campanha”, sonha
Isaac Loureiro.
Iphan decidirá em setembro
A superintendência do Iphan no Pará e Amapá
confirmou a informação de que a decisão sobre o registro do carimbo como
Patrimônio Cultural Brasileiro está agendada para o dia 11 de setembro,
durante a reunião do conselho consultivo do órgão, e esclarece que o
encontro provavelmente acontecerá em Brasília.
De acordo com nota enviada ao DIÁRIO pela
superintendente em exercício, Tatiana Borges, a decisão do título caberá
ao voto do conselho, formado por nove representantes de instituições
públicas e privadas e por treze representantes da sociedade civil,
indicados pela presidência do Iphan e designados pelo Ministério da
Cultura. A sessão será presidida pela presidente do Iphan, Jurema
Machado.
De acordo com o Iphan, o Processo de
Inventário Nacional de Referências Culturais do Carimbó (INRC Carimbó),
que pede a titulação dessa manifestação artística como patrimônio
nacional vem tramitando desde 2008, portanto há seis anos.
Neste inventário foram coletadas informações
sobre as mais variadas representações que o carimbó apresenta ao povo
paraense, suas diversas formas de expressões, celebrações associadas,
lugares de incidência da manifestação, confecção de instrumentos,
culinária e mais uma infinidade de cargas simbólicas associadas a essa
manifestação, com as quais grupos e mestres de carimbó têm contato
diariamente.
O material coletado nesses anos de pesquisa
foi transformado em um documento chamado “Dossiê do Carimbó” e enviado à
sede do Iphan em Brasília, com as justificativas para que a
manifestação seja consagrada Patrimônio Cultural Brasileiro.
Aos conselheiros do Iphan, caberá tem a
responsabilidade de examinar e apreciar as informações e decidir sobre o
registro. O que pesará na decisão, esclarece a nota do Iphan, “é
verificar qual a importância cultural do carimbó ao povo paraense, onde
obviamente este cultura transborda para vários outros aspectos da vida
social do povo paraense, como o econômico, o religioso e etc.”
Confira a matéria no link original: http://www.diarioonline.com.br/entretenimento/cultura/noticia-296886-.html
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