sexta-feira, 8 de agosto de 2014

CARIMBÓ PODE SER DECLARADO PATRIMÔNIO CULTURAL

(Matéria Publicada pelo Jornal Diário do Pará em 08/08/2014)

Carimbó pode ser declarado patrimônio cultural (Foto: Isaac Loureiro/Divulgação)
Mestres do ritmo aguardam decisão do Iphan para declarar carimbó patrimônio cultural brasileiro  (Foto: Isaac Loureiro/Divulgação)
(Por Nathalia Petta - Da Redação)
 
O carimbó como patrimônio imaterial da cultura popular. É isso que os mestres do estilo no Pará aguardam ansiosamente há oito anos. E eles esperam festejar essa conquistar em breve, com a ajuda da opinião pública. Depois de tanto esperar por uma resposta do pedido que fizeram ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), os mestres e as associações culturais se uniram e usaram o poder das redes sociais para mobilizar paraenses e simpatizantes da música e da cultura populares. Para isso, eles próprios aparecem em fotos com o mesmo apelo para que o pedido seja aprovado.

Mais de 100 mil pessoas foram alcançadas pelas publicações, que foram incontavelmente compartilhadas pela rede através da página da Campanha do Carimbó no Facebook. O resultado foi que finalmente o instituto colocou o pedido em pauta para a reunião do conselho.

“As reuniões do conselho já haviam sido adiadas diversas vezes, foram prometidas para março, depois junho e até agosto, mas quando percebemos que o dossiê nem tinha chegado nas mãos dos conselheiros nacionais, vimos que o sonho de ter o carimbó como patrimônio imaterial da cultura popular cada vez mais distante. Decidimos tomar uma atitude e mostrar o quanto estávamos ansiosos por uma decisão e lançamos a campanha no Facebook. E não queríamos ficar só no virtual, estávamos já partindo para as ruas para reivindicar uma resposta”, diz Isaac Loureiro, presidente da Irmandade Carimbó São Benedito, de Santarém Novo, uma das associações que em 2006 formalizaram o pedido ao Iphan.

“Chegamos até a fazer um cortejo no último dia 11 de julho em Santarém Novo e outros arrastões estavam agendados para Curuçá e Salvaterra. Mas nossas reivindicações virtuais já deram resultado e recebemos o comunicado da superintendente do Iphan que nosso pedido entraria na pauta de setembro e que o dossiê já havia sido encaminhado para Brasília, exatamente após as postagens dos mestres”, comemora Isaac.

Para ele, a campanha nas mídias sociais foi fundamental para que o assunto entrasse em pauta. Apesar das poucas “curtidas” na página oficial da campanha no Facebook (pouco mais de 1,5 mil pessoas), foram mais de 400 compartilhamentos nas fotos dos mestres e as informações foram visualizadas por mais de 100 mil pessoas, segundo os dados administrativos da própria rede social. “Nós já tínhamos tido diversas reuniões, eu mesmo como um dos conselheiros nacionais de política cultural do Ministério da Cultura já havia levado esse pedido inúmeras vezes. Até sessão especial na Assembleia Legislativa nós fizemos, e depois descobrimos que sequer o dossiê havia sido encaminhado”, recorda Isaac.

Festa de carimbó

Com a boa notícia de que o pedido já está em pauta para o mês de setembro, os amantes do carimbó já pensam na festa, quando o resultado favorável for anunciado. Agora eles fizeram mais um pedido ao Iphan: querem que a reunião do conselho seja realizada em Belém, para que os mestres e amantes da música possam participar mais efetivamente e a comunidade possa comemorar, com carimbó, é claro. “Estamos aguardando a resposta. Caso seja favorável, temos muito o que preparar para que a festa já comece enquanto a reunião acontece”, acrescenta o presidente.

Solange Loureiro viveu uma vida dedicada ao carimbó. Sua família faz parte da Irmandade Carimbó São Benedito e sempre esteve envolvida nos eventos, principalmente na tradicional festa de carimbó promovida em dezembro na cidade. “Trabalho na produção e sou dançarina do grupo ‘Os Quentes da Madrugada’, por isso o carimbó faz parte da minha vida. Estamos há muito tempo esperando que esse dia chegue e queremos muito comemorar. Não aceitamos que os mestres do carimbó continuem morrendo sem ter essa resposta e por isso lutamos tanto”, diz ela, que é integrante da campanha.

Solange relembra que o movimento começou em 2005, durante o 3º Festival de Carimbó de Santarém Novo. “Uma técnica do Iphan, na época, veio para o festival e nos esclareceu sobre o patrimônio imaterial e se colocou à disposição para nos ajudar com os registros do carimbó” conta.

Caso o carimbó vire patrimônio, a Campanha do Carimbó planeja um grande festival com grupos de todo estado, numa verdadeira apoteose da cultura popular. “Vamos convidar de 80 a 100 grupos para essa grande festa. Depois vem a cerimônia de titulação, que é um ato solene em que a ministra entrega o certificado do processo. Esperamos que ela entregue nas mãos dos nossos mestres, peças fundamentais para a nossa cultura e astros da nossa campanha”, sonha Isaac Loureiro.

Iphan decidirá em setembro

A superintendência do Iphan no Pará e Amapá confirmou a informação de que a decisão sobre o registro do carimbo como Patrimônio Cultural Brasileiro está agendada para o dia 11 de setembro, durante a reunião do conselho consultivo do órgão, e esclarece que o encontro provavelmente acontecerá em Brasília. 

De acordo com nota enviada ao DIÁRIO pela superintendente em exercício, Tatiana Borges, a decisão do título caberá ao voto do conselho, formado por nove representantes de instituições públicas e privadas e por treze representantes da sociedade civil, indicados pela presidência do Iphan e designados pelo Ministério da Cultura. A sessão será presidida pela presidente do Iphan, Jurema Machado.

De acordo com o Iphan, o Processo de Inventário Nacional de Referências Culturais do Carimbó (INRC Carimbó), que pede a titulação dessa manifestação artística como patrimônio nacional vem tramitando desde 2008, portanto há seis anos.

Neste inventário foram coletadas informações sobre as mais variadas representações que o carimbó apresenta ao povo paraense, suas diversas formas de expressões, celebrações associadas, lugares de incidência da manifestação, confecção de instrumentos, culinária e mais uma infinidade de cargas simbólicas associadas a essa manifestação, com as quais grupos e mestres de carimbó têm contato diariamente.

O material coletado nesses anos de pesquisa foi transformado em um documento chamado “Dossiê do Carimbó” e enviado à sede do Iphan em Brasília, com as justificativas para que a manifestação seja consagrada Patrimônio Cultural Brasileiro.

Aos conselheiros do Iphan, caberá tem a responsabilidade de examinar e apreciar as informações e decidir sobre o registro. O que pesará na decisão, esclarece a nota do Iphan, “é verificar qual a importância cultural do carimbó ao povo paraense, onde obviamente este cultura transborda para vários outros aspectos da vida social do povo paraense, como o econômico, o religioso e etc.”

Confira a matéria no link original: http://www.diarioonline.com.br/entretenimento/cultura/noticia-296886-.html
 

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