quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Verequete: o Carimbó nunca morre!



Hoje, aqui no Pará, é o Dia Estadual do Carimbó. No dia 3 de novembro de 2009 Mestre Verequete partiu para sua jornada no infinito, deixando para todos nós saudades e uma generosa obra musical. Deixou também, a nos inspirar, seu exemplo de coerência e resistência como mestre de uma tradição cultural que se mostra cada vez mais forte e vigorosa, mostrando que é possível manter vivas suas raízes e sua ancestralidade mesmo em situações adversas.
O mestre que viveu sua vida toda na batalha diária por dignidade e valorização, encerrou sua vida terrena sem ter alcançado o devido reconhecimento e respeito por tudo o que havia feito como artista e como mestre de carimbó. Apesar de seu nome ser conhecido aqui e no mundo afora como o ícone maior do carimbó de verdade, nunca usufruiu plenamente dos benefícios de seu trabalho. A dívida com Mestre Verequete e com nossos demais mestres e mestras da cultura popular permanece imensa, injusta e esquecida.
Uma comprovação disso são essas mesmas datas oficiais que celebram o aniversário e a morte de Verequete. Instituídas pelo poder público municipal e estadual, respectivamente, o 26 de agosto e o 3 de novembro tem passado em completo esquecimento e ignorância por parte dessas ditas autoridades. Nenhuma atividade sequer, nenhuma homenagem oficial, nenhum evento cultural, nenhuma nota nos jornais. Nada. É isso que significa essas datas para aqueles que ocupam os gabinetes dos palácios de governo em Belém e no Estado. Para eles, Mestre Verequete e o Carimbó nem existem, apesar de gostarem de usar nossos nomes nos discursos que costumam fazer em época de eleição.
Mas nós existimos e resistimos! Como afirma o lema da Campanha do Carimbó: somos patrimônio, somos resistência! E em nossas rodas e festividades, em nossos batuques e cantorias, em nossas comunidades e em nossa luta cotidiana, VEREQUETE VIVE!
E vive com redobrada paixão e energia, crescendo na auto-organização e na construção de caminhos novos que garantam a real e efetiva valorização e salvaguarda do nosso Carimbó e de seus verdadeiros protagonistas e guardiões: o povo pobre, mestiço, negro, índio, excluído, marginalizado das periferias urbanas e das pequenas comunidades do interior deste Pará. Nós, os cabôcos, os selvagens, os que não se rendem. Sim, nós, os que povoam os romances de Dalcídio e os poemas de Bruno, os que não tem nome de rua mas sabem ocupá-las com vida e alegria, os que só aparecem nos documentos amarelados da repressão policial, nós, os que incomodam o sossego da elite que acha que as cidades são só suas, nós que não temos lugar certo para tocar nosso tambor por isso estamos em todos os cantos, nós que festejamos para resistir e resistimos para que nossa alma permaneça livre e plena de alegria insolente...
Nós, que um dia fomos Cabanagem e hoje somos Carimbó, Brega, Marujada, Çairé, Boi Bumbá, Banguê, Curral do Pinça, Pássaro!..E continuamos cabanos em nossa alegria e rebeldia...
Nós, que hoje somos patrimônio cultural brasileiro, nós te saudamos, Mestre Verequete. Tomamos a tua benção como as crianças das comunidades que são educadas a terem respeito e carinho com os mais velhos, pois eles são nossa raiz profunda, forte, generosa. É isso que és para todos nós. Sempre serás.
Enquanto as datas oficiais te ignoram e desprezam, nós seguimos em frente com a luta que deixastes pra nós de herança, junto com tuas canções e teu nome de deus guerreiro. O Carimbó nunca morre, já o dissestes bem. E agora ecoa cada vez mais forte e mais longe.
Gratidão eterna , Mestre. Esteja sempre com nosso povo.
Belém, 03 de novembro de 2016. Ano II do registro do Carimbó como patrimônio cultural imaterial do povo brasileiro.

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