Equipe do Projeto CATA conhecendo o trabalho de Mestra Margarida |
No último dia 28 de junho Santarém Novo recebeu a visita de noss@s parceir@s do
projeto CATA - Cultura Alimentar Tradicional Amazônica - que vieram
registrar in loco nossa culinária cabocla e suas conexões com as
manifestações culturais populares de nossa comunidade. Vários mestras e mestras de cultura alimentar de nossa comunidade receberam a expedição e compartilharam suas práticas e saberes.
Mestra Margarida preparando o beiju chica no forno |
A
expedição CATA em Santarém Novo foi integrada pelos pesquisadores e
ativistas culturais paraenses Tainá Marajoara e Carlos Ruffeil,
acompanhados pelo fotógrafos Marcos Hermes (RJ) e Sylvia Seganfredo
Sanchez (SP), que foram acolhidos em nossa cidade pela centenária
Irmandade de Carimbó de São Benedito, principal organização de cultura
popular tradicional do município e responsável pela articulação da
Campanha do Carimbó, movimento aqui nascido durante o Festival de
Carimbó de Santarém Novo, em 2005.
Mestra Margarida em seu sitio |
O grupo registrou o trabalho
de Dona Margarida, pequena agricultora que reside na periferia de
Santarém Novo e que produz em sua casa de farinha o famoso beijú chica,
iguaria típica das festas tradicionais do Carimbó de São Benedito que a
Irmandade promove todo mês de dezembro. Feito de mandioca dura, da
branca, o beijú é preparado com recheio de côco ralado e possui um sabor
inigualável, além de ser um produto totalmente orgânico. Dona Margarida
e seu marido, Seu Andrelino, também produzem outros tipos de beijús,
como o coroa e o fino, estes feitos com mandioca mole, além de farinha
d'água e de tapioca, tucupi e goma de tapioca.
Os visitantes
ficaram impressionados com a quantidade de casas de farinha em atividade
no município, todas de caráter familiar e comunitário, mostrando a
força da agricultura tradicional em Santarém Novo.
Molho de caranguejo do tacacá caboclo |
O tacacá com
molho de caranguejo, ou simplesmente tacacá de caranguejo, foi outra
iguaria típica de nossa terra que chamou a atenção da equipe do CATA.
Preparado sem tucupí, jambú ou camarão, esse tacacá utiliza um molho
feito a partir da gordura e da polpa do caranguejo, crustáceo abundante
nos manguezais de Santarém Novo, que hoje formam a Reserva Extrativista
Marinha Chocoaré-Mato Grosso, uma unidade de conservação federal onde
vivem centenas de famílias de pescadores artesanais e tiradores de
caranguejo.
Para mostrar os segredos do preparo desse tacacá, a
equipe do CATA foi recebida pelo Mestre Dico Boi, uma lenda viva do
carimbó da região, batedor do grupo Os Quentes da Madrugada, vinculado à
Irmandade de Carimbó de São Benedito e também pescador e tirador de
caranguejo. Um mestre dos mangues e do carimbó, uma síntese perfeita do
que representa a cultura alimentar para nossa comunidade.
Os Quentes da Madrugada, carimbó raiz de verdade. |
Porém,
antes de apreciar o tacacá especial de Santarém Novo, era fundamental
conhecer outra tradição belíssima da cidade: o Carimbó de São Benedito e
seus guadiões, o Grupo Os Quentes da Madrugada, que conduzem as onze
noites de festa da Irmandade em dezembro. Formado por mestres e jovens
batuqueiros da comunidade, o grupo preserva os tambores e instrumentos
antigos e sua cantoria centenária, com uma sonoridade peculiar e única.
Os Quentes, como são chamados pelos moradores locais, posaram para as
lentes do mesmo fotógrafo que já fez mais de 600 capas de discos,
trabalhando com artistas como Paul MacCartney, Sepultura, Stevie Wonder,
Caetano Veloso, Lenine e outros...Depois a equipe visitou a oficina de
Mestre Sabá, artesão e carpinteiro que hoje confecciona os instrumentos
percussivos da Irmandade.
Mestre Dico Boi mostrando o mangue |
Continuando a missão do tacacá, Mestre
Dico Boi guiou os visitantes até o mangue, onde mostrou como captura os
caranguejos que utiliza no tacacá e falou sobre a importância dos
conhecimentos que recebeu de seu pai, Mestre Valdemar, com quem aprendeu
tudo o que sabe: pesca, agricultura, mangue e carimbó. Depois em sua
modesta casa ensinou como preparar a iguaria, que foi feita com
caranguejo assado na brasa, outra prática tradicional em Santarém Novo.
Tudo registrado pelas lentes de Marcos e Sylvia, encantados pela
sabedoria e generosidade do mestre.
O projeto CATA se despediu de
Santarém Novo no sábado após o jogo da seleção brasileira, assistido
por todos no pequeno televisor na sala de Mestre Dico Boi, degustando o
delicioso tacacá de caranguejo. A equipe do projeto voltará a Santarém
Novo no 2º semestre de 2014, para novas entrevistas e para realização de
oficinas culturais para a comunidade, a serem articuladas em parceria
com a Campanha do Carimbó e com a Irmandade.
Nossa gratidão a
noss@s mestras e mestres pela generosidade e alegria em compartilhar
seus saberes, nossa gratidão a toda a equipe do CATA pela parceria e
comprometimento com a causa das culturas populares e tradicionais de
nossa região.
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