sábado, 28 de junho de 2014

PROJETO CATA VISITA MESTRAS E MESTRES DE CULTURA ALIMENTAR TRADICIONAL EM SANTARÉM NOVO

Equipe do Projeto CATA conhecendo o trabalho de Mestra Margarida



No último dia 28 de junho Santarém Novo recebeu a visita de noss@s parceir@s do projeto CATA - Cultura Alimentar Tradicional Amazônica - que vieram registrar in loco nossa culinária cabocla e suas conexões com as manifestações culturais populares de nossa comunidade. Vários mestras e mestras de cultura alimentar de nossa comunidade receberam a expedição e compartilharam suas práticas e saberes.

Mestra Margarida preparando o beiju chica no forno
A expedição CATA em Santarém Novo foi integrada pelos pesquisadores e ativistas culturais paraenses Tainá Marajoara e Carlos Ruffeil, acompanhados pelo fotógrafos Marcos Hermes (RJ) e Sylvia Seganfredo Sanchez (SP), que foram acolhidos em nossa cidade pela centenária Irmandade de Carimbó de São Benedito, principal organização de cultura popular tradicional do município e responsável pela articulação da Campanha do Carimbó, movimento aqui nascido durante o Festival de Carimbó de Santarém Novo, em 2005.

Mestra Margarida em seu sitio
O grupo registrou o trabalho de Dona Margarida, pequena agricultora que reside na periferia de Santarém Novo e que produz em sua casa de farinha o famoso beijú chica, iguaria típica das festas tradicionais do Carimbó de São Benedito que a Irmandade promove todo mês de dezembro. Feito de mandioca dura, da branca, o beijú é preparado com recheio de côco ralado e possui um sabor inigualável, além de ser um produto totalmente orgânico. Dona Margarida e seu marido, Seu Andrelino, também produzem outros tipos de beijús, como o coroa e o fino, estes feitos com mandioca mole, além de farinha d'água e de tapioca, tucupi e goma de tapioca.
 
Os visitantes ficaram impressionados com a quantidade de casas de farinha em atividade no município, todas de caráter familiar e comunitário, mostrando a força da agricultura tradicional em Santarém Novo.

Molho de caranguejo do tacacá caboclo
O tacacá com molho de caranguejo, ou simplesmente tacacá de caranguejo, foi outra iguaria típica de nossa terra que chamou a atenção da equipe do CATA. Preparado sem tucupí, jambú ou camarão, esse tacacá utiliza um molho feito a partir da gordura e da polpa do caranguejo, crustáceo abundante nos manguezais de Santarém Novo, que hoje formam a Reserva Extrativista Marinha Chocoaré-Mato Grosso, uma unidade de conservação federal onde vivem centenas de famílias de pescadores artesanais e tiradores de caranguejo.


Para mostrar os segredos do preparo desse tacacá, a equipe do CATA foi recebida pelo Mestre Dico Boi, uma lenda viva do carimbó da região, batedor do grupo Os Quentes da Madrugada, vinculado à Irmandade de Carimbó de São Benedito e também pescador e tirador de caranguejo. Um mestre dos mangues e do carimbó, uma síntese perfeita do que representa a cultura alimentar para nossa comunidade.

Os Quentes da Madrugada, carimbó raiz de verdade.
Porém, antes de apreciar o tacacá especial de Santarém Novo, era fundamental conhecer outra tradição belíssima da cidade: o Carimbó de São Benedito e seus guadiões, o Grupo Os Quentes da Madrugada, que conduzem as onze noites de festa da Irmandade em dezembro. Formado por mestres e jovens batuqueiros da comunidade, o grupo preserva os tambores e instrumentos antigos e sua cantoria centenária, com uma sonoridade peculiar e única. Os Quentes, como são chamados pelos moradores locais, posaram para as lentes do mesmo fotógrafo que já fez mais de 600 capas de discos, trabalhando com artistas como Paul MacCartney, Sepultura, Stevie Wonder, Caetano Veloso, Lenine e outros...Depois a equipe visitou a oficina de Mestre Sabá, artesão e carpinteiro que hoje confecciona os instrumentos percussivos da Irmandade. 

Mestre Dico Boi mostrando o mangue
Continuando a missão do tacacá, Mestre Dico Boi guiou os visitantes até o mangue, onde mostrou como captura os caranguejos que utiliza no tacacá e falou sobre a importância dos conhecimentos que recebeu de seu pai, Mestre Valdemar, com quem aprendeu tudo o que sabe: pesca, agricultura, mangue e carimbó. Depois em sua modesta casa ensinou como preparar a iguaria, que foi feita com caranguejo assado na brasa, outra prática tradicional em Santarém Novo. Tudo registrado pelas lentes de Marcos e Sylvia, encantados pela sabedoria e generosidade do mestre.

O projeto CATA se despediu de Santarém Novo no sábado após o jogo da seleção brasileira, assistido por todos no pequeno televisor na sala de Mestre Dico Boi, degustando o delicioso tacacá de caranguejo. A equipe do projeto voltará a Santarém Novo no 2º semestre de 2014, para novas entrevistas e para realização de oficinas culturais para a comunidade, a serem articuladas em parceria com a Campanha do Carimbó e com a Irmandade.

Nossa gratidão a noss@s mestras e mestres pela generosidade e alegria em compartilhar seus saberes, nossa gratidão a toda a equipe do CATA pela parceria e comprometimento com a causa das culturas populares e tradicionais de nossa região.

(Fotos e texto por Isaac Loureiro)

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