Na madrugada desta terça-feira, 24 de janeiro de 2011, o carimbó paraense perdeu Mestre Deco, da cidade de Maracanã, um dos grandes cantadores e compositores de carimbó da região do Salgado Paraense que insistem em manter acesa a chama da tradição maior de nosso povo.
Mestre Deco vinha lutando há meses contra um implacável câncer de estômago, enfermidade infelizmente muito comum entre a população do interior do Estado, que por conta da precariedade do atendimento público de saúde disponível geralmente só consegue chegar ao diagnóstico da doença quando a mesma já se tornou irreversível, sem chance de cura. Como ele já perdemos muitos mestres e mestras. Como ele aguardam sua hora outros tantos, como Mestre Bento, de Marapanim...
João Alves era seu nome de batismo, quando nasceu na cidade de Maracanã, antiga fortaleza de Cintra, em 1952. Pescador de profissão, no carimbó pau & corda da região seu nome era Deco, Mestre Deco, uma das vozes mais poderosas a cantar carimbó por essas bandas, dono de um timbre grave e irresistível que encantou o povo simples das margens do Rio Maracanã e seu entorno. Desde jovem se envolveu com o "zimba", nome que os antigos davam ao carimbó na região, que entrou na sua vida e dela nunca mais saiu.
No auge do boom fonográfico e radiofônico do carimbó, entre as décadas de 70 e 80, Mestre Deco era o vocalista do lendário conjunto "Os Originais de Maracanã", que chegaram a gravar um único LP por uma gravadora de Belém.
Na década de 90 passou a cantar com o grupo "Família Unida", que depois se tornaria o grupo "Unidos de Maracanã", onde permaneceu até 2009. Foi cantando com esse conjunto que participou várias vezes do Festival de Carimbó de Santarém Novo, onde conheceu e participou do movimento pelo registro do carimbó como patrimônio cultural brasileiro, a Campanha do Carimbó. É um dos mestres incluídos no inventário de referências culturais do carimbó, realizado pelo IPHAN desde 2009.
Em 2010 foi registrado pelo músico e pesquisador Alfredo Belo ( o DJ Tudo, de São Paulo), cantando com o reativado grupo "Os Originais de Maracanã", último conjunto em que tocaria. A iniciativa da gravação fazia parte da parceria entre a Campanha do Carimbó e o selo Mundo Melhor e buscava proporcionar aos grupos e mestres do carimbó tradicional a oportunidade de terem um registro em aúdio, de boa qualidade, de sua música maravilhos e tão pouco conhecida ou difundida.
Aos 59 anos, Mestre Deco nos deixa saudades e tristeza por desaparecer de forma tão dolorosa e precoce, sem poder ver os resultados do processo de registro do carimbó como patrimônio imaterial que ainda não se concluiu, e para o qual ele e outros mestres e mestres aguardaram e aguardam com tanta esperança. Esperança de que essa música, essa dança, essa poesia, essa arte popular e bicentenária possa enfim ser devidamente valorizada e respeitada como parte fundamental da cultura de nosso Estado e de nosso País. Esperança de que homens como Mestre Deco, artistas generosos e desconhecidos pelo Brasil, possam finalmente sorrir plenamente pelo reconhecimento de seu trabalho e talento, estejam onde estiverem...
Nossos agradecimentos e aplausos a você, Mestre Deco. Descanse em paz.
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